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Idade Média - Sto Agostinho e Sto. Tomás de Aquino - 27-28/nov

Idade Média - Sto Agostinho e Sto. Tomás de Aquino

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O período entre 476, queda do Império Romano do Ocidente, e 1453, queda do Império Bizantino, é usualmente chamado de Idade Média. 
Na Europa Ocidental, o mundo medieval tinha o latim como língua oficial e era fruto da fusão das culturas bárbara e romana. A Igreja Católica Romana, ao longo do período medieval, construiu sua hegemonia na região. A Idade Média é geralmente vista como um período de grande intolerância religiosa, associada especialmente à Inquisição e às Cruzadas. 
Mas nessa época também surgiram diversos elementos da cultura atual, como as religiões islâmica e ortodoxa, as línguas modernas, as primeiras universidades, os hospitais, as notas musicais, os bancos, entre outros elementos. Muitos avanços ocorreram na física, na ótica, na astronomia, na alquimia, na medicina, na anatomia, na agricultura e na filosofia. 
Os pensadores cristãos utilizaram muitos elementos da filosofia greco-romana, especialmente Platão, Aristóteles e os estoicos. A filosofia medieval insere-se nesse contexto histórico, podendo ser dividida em dois períodos. 
No fim do Império Romano e na Alta Idade Média (séculos V-X), temos o período conhecido como Patrística, ou seja, a doutrina dos pais da Igreja. A Patrística pretende defender o cristianismo diante do pensamento pagão e hebraico, sendo responsável pela elaboração da teologia dogmática católica. São chamados, por isso, de apologetas, pois faziam a apologia, isto é, a defesa do cristianismo. 
O problema central dessa corrente filosófica é: como conciliar fé e razão? Se em Isaías 7,9 está escrito “se não credes não entendereis”, como pensar corretamente? Fazem parte desse pensamento, por exemplo, São Justino (primeiro filósofo cristão, mártir em Roma em 167), São Clemente de Alexandria (150-215) e Santo Agostinho (354-430). 
A lógica e a retórica gregas, assim como nos conceitos formulados por Platão (principalmente sua dualidade entre mundo material e espiritual), Aristóteles (substância, essência, potência etc.) e pelos estoicos (sua ética baseada na resignação, na austeridade e no autocontrole), são fundamentais para a formulação da teologia do período. 
Nesse sentido, a filosofia cristã pode ser enxergada como uma síntese entre o judaísmo, o cristianismo e a cultura greco-romana. Já o pensamento cristão da Baixa Idade Média (séculos X-XV) é conhecido como Escolástica. 
A partir das reformas do papa Gregório VII, em 1070, ficou estabelecido que todas as abadias e catedrais tivessem uma escola (de onde vem o nome “escolástica”). Assim como na Patrística, a Escolástica também se ateve ao ideal de conciliar fé e razão. No entanto, se Santo Agostinho cristianizou as ideias platônicas, na Escolástica, Aristóteles foi o novo autor utilizado como paradigma. 
O método escolástico de construção do conhecimento constituía-se na apresentação de uma questão (Quaestio), em seguida debatida (Disputatio) com argumentos baseados principalmente na Bíblia e em Aristóteles, estando presentes autoridades da Igreja Católica e conhecedores dos clássicos. 
Por fim, uma conclusão única e inequívoca era apresentada (Determinatio). Tais métodos serão, posteriormente, rejeitados pelo Renascimento (séculos XIV-XVI), que valorizará a observação e a experimentação em vez da autoridade.
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A Idade Média “O Triunfo da Igreja”, tela de Peter Paul Rubens
Rubens

SANTO AGOSTINHO
 Considerado o maior teólogo do cristianismo, Santo Agostinho realizou estudos sobre como conciliar fé e razão Origem Tagaste (354-430) 
CORRENTE FILOSÓFICA
 Patrística 
PRINCIPAIS OBRAS 
Confissões; Cidade de Deus; Sobre a Doutrina Cristã; Sobre a Trindade 
Frase-síntese
 “É preciso compreender para crer, e crer para compreender.” 
BIOGRAFIA 
Aurélio Agostinho nasceu em Tagasta (hoje Suk Ahras), na Argélia. Estudou retórica em Cartago e seguiu várias linhas filosóficas, como o maniqueísmo, corrente baseada no conflito entre o bem e o mal, e o ceticismo. Sob a influência do bispo de Milão, Santo Ambrósio, converteu-se ao cristianismo e foi batizado em 387. Foi nomeado bispo de Hippo (atual Annaba), na Argélia, onde morreu aos 75 anos. 
É considerado o maior teólogo do cristianismo e o maior filósofo desde Aristóteles. Agostinho realizou a primeira grande sistematização do pensamento cristão, incorporando as ideias de Platão ao cristianismo. 
humilde
Seu sofisticado pensamento serviu como base para toda a teologia cristã ocidental. “No que diz respeito a todas as coisas que compreendemos, não consultamos a voz de quem fala, a qual soa por fora, mas a verdade que dentro de nós preside a própria mente, incitados talvez pelas palavras a consultá-la. Quem é consultado ensina verdadeiramente e este é Cristo, que habita, como foi dito, no homem interior.”
 A FILOSOFIA DE SANTO AGOSTINHO 
Santo Agostinho tinha particular interesse nos estudos sobre como conciliar fé e razão. Sendo a mente humana mutável e falível, como atingir, a partir dela, a Verdade eterna? Para Santo Agostinho, a filosofia antiga, apesar de pagã, seria uma preparação da alma, muito útil para a compreensão da verdade revelada. Afinal, sem o intelecto o homem é incapaz de compreender as Sagradas Escrituras. Entretanto, tal como o olho necessita da luz do sol para enxergar, o ser humano necessita da luz divina para chegar ao conhecimento completo, não sendo suficiente (apesar de importante) o uso da razão. 
 Intellige ut credas, crede ut intelligas (“é preciso compreender para crer, e crer para compreender”) e 
fides praecedit intellectum (“a fé precede a razão”) são algumas de suas mais famosas máximas. 
A verdadeira sabedoria, com a qual vem a verdadeira felicidade, não se encontra neste mundo, mas tão-somente em Deus, que é o arx philosophiae (ápice da filosofia). 
Para alcançá-lo, não basta a razão, é preciso entregar-se na busca da face incompreensível ou inefável de Deus. Nossa mente, criada à imagem e semelhança de Deus, possui uma centelha divina, a luz natural (lúmen naturale), que nos da a capacidade de entender as verdades eternas. Todo o homem possui a centelha divina. 
Como diz São Paulo: “Não há judeus, nem grego, nem escravo, nem homem livre, nem homem, nem mulher: todos sois um no Cristo Jesus”. Essa é a Teoria da Iluminação de Santo Agostinho. 
Tal teoria é proveniente da doutrina da reminiscência de Platão, segundo a qual as ideias já residiriam em nossa alma e caberia ao filósofo despertá-las. 
Diante da perfeição de Deus, há um problema para esses primeiros teólogos do cristianismo: se Deus é todo-poderoso, criador de tudo, ele também seria criador do mal? Se Deus criou o mal, como defender sua bondade infinita? Se ele é onipotente, seria ele responsável pela miséria e infelicidade do mundo? 
Para Santo Agostinho, o mal não tem realidade metafísica: todo o mal não é mais que a ausência do bem, a ausência da obra divina. Ou, para ser mais preciso, o mal não é algo que foi criado, não é algo físico – o mal é o “não ser”. 
Santo Agostinho hoje 
Na atualidade, existem preconceitos de diversos tipos: se existem, por um lado, grupos que discriminam minorias, existem também, por outro, aqueles que associam “religião” à ignorância. A densidade da obra de Santo Agostinho, rica tanto do ponto de vista filosófico quanto do ponto de vista literário, nos mostra que essa associação é absolutamente equivocada.
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SANTO TOMÁS DE AQUINO
 Maior expoente da filosofia escolástica, Santo Tomás de Aquino foi fortemente influenciado por Aristóteles e Averróis 
Origem 
Roccasecca (cerca de 1224-1274) 
CORRENTE FILOSÓFICA 
Escolástica 
PRINCIPAIS OBRAS 
Suma Teológica; Suma contra os Gentios; Contra os Erros dos Gregos; Comentários sobre Aristóteles Frase-síntese “O objeto das virtudes teológicas é o próprio Deus, que é a última finalidade de tudo e acima do conhecimento da nossa razão. 
Por outro lado, o objeto das virtudes morais e intelectuais é algo compreensível à razão humana.” 
BIOGRAFIA 
Santo Tomás de Aquino foi o maior expoente da filosofia escolástica. Membro da Ordem dos Dominicanos e professor da Universidade de Paris, Aquino foi aluno de Santo Alberto Magno (1206-1280). Fortemente influenciada por Aristóteles e Averróis, sua filosofia é de suma importância para a Igreja Católica até os dias atuais. Durante o Concílio de Trento, sua obra foi colocada no altar ao lado da Bíblia, sendo considerada fundamental para o combate e a refutação do protestantismo. Durante a viagem a Roma, onde participaria do II Concílio de Lyon, a convite do papa Gregório X, Aquino adoeceu, vindo a falecer na Abadia de Fossanova, em 1274. Foi canonizado em 1323. Na posteridade, muito de seu pensamento, no entanto, foi deformado e injustamente associado à ortodoxia e ao conservadorismo. “Em todas as causas eficientes ordenadas, em primeiro lugar está a causa do que se encontra no meio, e o que se encontra no meio é causa do que está em último lugar, tanto se os intermediários forem muitos, quanto se for um só; tiradas as causas, tira-se o efeito; logo, se não for primeiro nas causas eficientes, não será nem em último, nem no meio. Se, porém, procedermos de forma indefinida nas causas eficientes, não haverá primeira causa eficiente e, portanto, não haverá também nem efeito último nem causas intermediárias, o que é evidentemente falto. Logo, é necessário admitir alguma causa eficiente primeira, à qual todos chamam de Deus.” 
TOMÁS DE AQUINO
A FILOSOFIA DE SANTO TOMÁS DE AQUINO 
Uma de suas ideias centrais é a rejeição do absoluto antagonismo entre a razão e a fé. Para Aquino, existiriam as “verdades da fé”, atingíveis apenas por meio da revelação cristã, às quais não poderemos chegar através da razão. Porém, nem todas as verdades seriam alcançadas desse modo, existindo também as “verdades naturais teológicas”. Sendo a razão obra de Deus, poderíamos alcançar essas verdades tanto pela fé como pela razão. A fé e a razão seriam, muitas vezes, rios que desembocam num mesmo oceano. Em sua Suma Teológica, o filósofo apresenta cinco vias para demonstrar a existência de Deus, ancoradas na filosofia aristotélica: FILOSOFIA PERÍODOS HISTÓRICOS - IDADE MÉDIA 46 
1 O primeiro argumento, oriundo da Física de Aristóteles, crê que, se tudo que move é movido por algo, não pode ser admitida uma regressão ao infinito, devendo existir um primeiro motor. Deus, assim, é o Primeiro Motor. 
2 O segundo argumento, oriundo da Metafísica de Aristóteles, defende a ideia de que, se perguntássemos a qualquer fenômeno do mundo sua causa e continuássemos sucessivamente perguntando as “causas de suas causas”, em todos os casos chegaríamos a Deus. 
3 O terceiro argumento, baseado nas noções de necessidade e contingência de Aristóteles, acredita que, se tudo na natureza fosse contingente, passageiro, é preciso que algo do que existe seja perene. Deus é o primeiro ser, origem de toda necessidade. 
4 O quarto argumento, inspirado na Metafísica de Aristóteles, pensa que, se todas as coisas na natureza têm uma qualidade, em maior ou menor grau (tamanho, força etc.), é preciso um parâmetro, a perfeição, que é Deus, portador de todos os atributos e qualidades em máximo grau. 
5 O quinto argumento pensa que se, como observa Aristóteles, a natureza possui um propósito, deve haver uma finalidade para toda a criação, caso contrário o universo não tenderia para o mesmo fim ou resultado. A causa inteligente do universo é Deus. 

No campo da política, Santo Tomás de Aquino dividiu as leis em lei natural (visando a preservar a vida), lei positiva (estabelecida pelo homem, visando a preservar a sociedade) e lei divina (que conduz o homem à vida cristã e ao paraíso, guiando as outras leis). 
Para Aquino, como para Aristóteles, o homem é um animal social e político: a família é a primeira associação, e o Estado, sua ampliação e continuação. O Estado, assim, deve existir, desde que subordinado, no que diz respeito à religião e à moral, à Igreja, a qual visa ao bem eterno das almas.
 Essa foi a concepção dominante da Igreja Católica, que seria depois combatida por Maquiavel. 
Santo Tomás de Aquino hoje 
Atualmente, são inúmeros os debates acerca das relações entre fé e ciência. 
Alguns, por um lado, propugnam a separação absoluta dos dois campos, pois, como disse Mário Sérgio Cortella, se, em ciência, é preciso ver para crer, em religião, é preciso crer para ver. Por outro lado, outros, como os deístas, acreditam que é necessário não existir contradição entre os dois campos para, assim, a fé ser confiável. A obra de Santo Tomás de Aquino, pregando algumas convergências entre fé e razão, pode iluminar esse debate.

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