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MARX ► EXISTENCIALISMO→ Nietzsche, Sartre, Bauman - 18-19/dez


Pessoas festejam a queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989 (RolandBlunck/ iStock)
Nas palavras do historiador egípcio Eric Hobsbawm, o mundo contemporâneo é fundado por uma dupla revolução. 
Por um lado, uma revolução político-social, a Revolução Francesa: ela cria nossos modelos de Constituição liberal, a noção de igualdade política e, em seus momentos mais radicais, promete igualdade social e partilha de terras. No século XIX, todas as grandes revoluções são influenciadas pelo modelo francês. 
A segunda revolução é econômica: a Revolução Industrial Inglesa, que cria nosso modelo de empresa contemporânea. Suas inovações técnico-científicas são o ponto de partida do capitalismo mundial e sua classe operária dá o tom das lutas sociais dos séculos XIX e XX.
O século XIX no mundo ocidental, nesse sentido, é marcado por três momentos, de acordo com Hobsbawm: 
► uma Era das Revoluções (1789-1848), quando o mundo aristocrático é derrubado na Europa Ocidental; 
► uma Era do Capital (1848-1875), quando o sistema capitalista liberal conhece seu momento de expansão; e uma Era dos Impérios (1875-1914), 
► quando a Europa toma de assalto as colônias africanas e asiáticas e forma-se um sistema de competição que culmina na I Guerra Mundial, em 1914.
Esse é o contexto da filosofia de Marx, que é ao mesmo tempo uma análise e crítica do sistema capitalista, e de Schopenhauer e Nietzsche, os quais criticam os paradigmas da civilização ocidental, que vive seu momento de expansão. Os três filósofos, diga-se de passagem, são oriundos da Prússia, Estado militarizado, autoritário e industrial, do qual parte a Unificação Alemã. 
O século XX, por sua vez, pode ser pensado a partir de três momentos, ainda de acordo com a periodização de Hobsbawm: 
→ a Era das Catástrofes (1914-1945), quando o mundo conhece a I Guerra Mundial, a Revolução Russa, a Crise de 1929, o Nazifascismo e a II Guerra Mundial; 
→ a Era de Ouro (1945-1973), momento de apogeu da Guerra Fria, quando a Europa Ocidental e os Estados Unidos, em competição com a URSS, promovem enorme crescimento econômico e conquistas sociais; e, por fim, 
→ a Era da Decomposição (1973-1991), quando o mundo conhece uma retomada do liberalismo (que havia entrado em crise na Era das Catástrofes) e a União Soviética entra em colapso. 
A filosofia de Sartre, Foucault e Habermas devem ser pensadas nesse contexto. 
Por fim, o filósofo polonês Zygmunt Bauman, muito lido na atualidade, enxerga o mundo na ótica do século XXI: suas preocupações envolvem a civilização globalizada e a sociedade da informação, a internet e as redes sociais, o desmoronamento dos direitos trabalhistas e o surgimento de relações de trabalho, que ele entende como “líquidas”.

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Segundo Marx, as transformações da sociedade aconteceriam devido às lutas entre as diferentes classes sociais 
Origem
 Trier (Prússia, atual Alemanha) (1818-1883) 
CORRENTE FILOSÓFICA 
Materialismo 
PRINCIPAIS OBRAS 
O Manifesto Comunista; Grundrisse; Crítica da Filosofia do Direito em Hegel; A Ideologia Alemã; A Luta de Classes na Rússia; O 18 Brumário de Luís Bonaparte; A Miséria da Filosofia; O Capital 
Frase-síntese 
“Os filósofos até agora se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras; mas o que importa é transformá-lo.” 
 BIOGRAFIA 
Karl Marx nasceu em 5 de maio de 1818, em Trier (Prússia). Primeiro entre nove filhos de uma família judaico-alemã, estudou filosofia nas universidades de Berlim e de Iena. Em 1842 chefiou a redação do jornal Rheinische Zeitung, em Colônia, no qual escreveu artigos radicais em defesa da democracia. 
Mudou-se para Paris em 1844 e conheceu Friedrich Engels, que viria a se tornar seu companheiro de luta e de trabalho. Em 1848 publicou O Manifesto do Partido Comunista, em parceria com Engels, que defendia uma revolução internacional que derrubasse a burguesia e o capitalismo e implantasse o comunismo. 
A divulgação do manifesto provocou sua expulsão de Paris. Marx, então, mudou-se para Londres, onde estudou história e economia, escreveu artigos na imprensa e ajudou a fundar o movimento pró-socialista da 1ª Internacional. Em 1867 publicou o primeiro volume de sua principal obra, O Capital. Marx faleceu em 1883, em decorrência de bronquite e pleurisia. “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história ocorrem, por assim dizer, duas vezes. 
E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa. 
Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com as que defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime com um pesadelo o cérebro dos vivos.” 
A FILOSOFIA DE MARX 
Um conceito fundamental do marxismo é o materialismo histórico-dialético. Para Marx, a realidade não é estável, ela é um processo de transformação progressivo e constante. Esse processo de mudança contínua se dá a partir de um conflito dos contrários: o contrário nega o outro, que é negado por um nível superior de desenvolvimento histórico, que preserva alguma coisa de ambos os termos negados. 
É a chamada Lei da Negação da Negação, usualmente representada pelo esquema tese, antítese, síntese. Por exemplo, o historiador marxista Perry Anderson, ao analisar a passagem da Antiguidade para o Feudalismo, aponta três componentes: o Império Romano (tese), em contraposição ao mundo bárbaro (sua antítese, sua negação), que engendrou um mundo novo, o mundo Feudal (síntese ou negação da negação). 
Como resume Marx, “sem antagonismo, não há progresso”. O funcionamento da sociedade é explicado por Marx a partir da famosa metáfora do edifí- cio, pelos conceitos de infraestrutura e superestrutura. 
Na produção social de sua vida, os homens estabelecem determinadas relações de produção, necessárias e independentes de sua vontade, que correspondem a uma determinada fase do desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade – a infraestrutura. 
Sobre essa base se ergue a superestrutura, compreendida pelo marxismo como as formas do Estado e da consciência social (religião, leis, política, moral etc.). Em outras palavras, é a partir do contexto econômico de um determinado período que se podem entender sua cultura, política e religião. 
O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual em geral. Nas palavras de Marx, o “segredo mais íntimo, o fundamento oculto de toda a estrutura social” encontra-se na “relação direta entre os proprietários das condições de produção e os produtores diretos”. Isso não quer dizer que a superestrutura seja passiva. Um dos postulados básicos do materialismo histórico é que a superestrutura afeta, ou “age retroativamente” sobre ela, a infraestrutura. 
Assim como a base material afeta a superestrutura, a superestrutura, dialeticamente, também pode afetar a base. Infra e superestrutura interagem, apesar de que, em última instância, uma necessidade econômica sempre se afirma, e as forças produtivas estão no lugar determinante da história. 
A necessidade econômica, digamos, não determina nossa ação individual ou coletiva, mas estabelece seus limites. Segundo Marx, as transformações da sociedade aconteceriam devido às lutas entre as diferentes classes sociais. Ao se desenvolverem, as forças produtivas da sociedade entram em conflito com as relações de produção existentes. O conflito se resolve em favor das forças produtivas. 
Nesse sentido, surgem relações de produção novas e superiores, amadurecidas no seio da sociedade antiga e que se ajustam melhor ao crescimento continuado da capacidade produtiva da sociedade. O crescimento da burguesia ao longo da Idade Moderna, por exemplo, estava travado por uma economia ainda com traços feudais; nesse sentido, as revoluções burguesas, a partir do século XVIII, acabaram com esses “entraves” e construíram uma sociedade capitalista, adaptada aos seus interesses. 
Em O Manifesto Comunista está a mais clara expressão da luta de classes como motor da história: “A história de toda a sociedade que até hoje existiu é a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre e oficial, em suma, opressores e oprimidos sempre estiveram em constante oposição; empenhados numa luta sem trégua, ora velada, ora aberta (…) a luta pela democracia, monarquia, direito de voto etc. são apenas maneiras ilusórias nas quais se desenvolve a verdadeira luta de classes”. 
Mas cuidado: a luta de classes não é apenas um confronto armado, mas algo presente em todos os procedimentos institucionais, políticos, policiais, legais, que a classe dominante lança mão para obter sua dominação. 
Marx hoje 
O marxismo é uma das filosofias mais debatidas e controversas da atualidade. Mas, independentemente de qualquer posição política, Marx foi um filósofo importante em sua época e, seja para criticar, seja para defender, deve ser estudado. Diversas análises presentes em O Capital ainda são muito úteis para economistas, filósofos e cientistas sociais. 
Por exemplo, o sociólogo André Singer, em seu livro O Sentido do Lulismo, interpretou a Era Lula a partir da luta de classes. Para ele, o lulismo foi um “pacto de classes”, no qual os grupos menos favorecidos puderam conquistar avanços importantes (ProUni, Fies, Bolsa Família, Luz para Todos, Minha Casa, Minha Vida), desde que isso não afetasse os privilégios dos mais ricos (bancos e construtoras mantiveram lucros extraordinários) nem as maneiras antigas de fazer política (compra de votos, alianças com antigas elites políticas). A crise do lulismo representaria, nesse sentido, o próprio esgotamento desse “pacto de classes”, que, sobretudo a partir do governo Dilma Rousseff, não pôde mais ser mantido.
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Por meio da Genealogia da Moral, Nietzsche acreditava ser preciso investigar a origem dos valores, em vez de simplesmente aceitá-los.
Origem 
Rökken (Prússia, atual Alemanha) (1844-1900) 
PRINCIPAIS OBRAS 
Humano, Demasiado Humano (1876-1880); Assim Falou Zaratustra (1883); A Genealogia da Moral (1887); Além do Bem e do Mal (1889); O Crepúsculo dos Ídolos (1889) 
Frase-síntese 
“O que quer que não pertença à vida é uma ameaça para ela.”” 
BIOGRAFIA 
Friedrich Nietzsche nasceu em 15 de outubro de 1844, em Rökken (Prússia, atual Alemanha). Criado em uma família de clérigos luteranos, Nietzsche foi preparado para ser pastor. Aos 18 anos, perdeu a fé em Deus e passou por um período libertino, quando contraiu  sífilis. 
Nietzsche tornou-se professor de filosofia e poesia gregas com apenas 24 anos, na Universidade de Basileia, em 1869. Abandonou a universidade em 1879. Sofrendo de intensas dores de cabeça e de uma crescente deterioração da vista, levou uma vida solitária, vagando entre a Itália, os Alpes suíços e a Riviera Francesa – ele atribui à doença o poder de lhe conferir uma clarividência e lucidez superiores. 
Em janeiro de 1889, ao ver um cocheiro chicoteando um cavalo, abraçou o pescoço do animal para protegê-lo e caiu no chão. Havia enlouquecido? Muitos amigos que visitavam Nietzsche na clínica psiquiátrica duvidavam de sua doença e alguns de seus biógrafos afirmam que, longe de loucura, ele atingiu uma enorme sanidade. O filósofo morreu em 1900. “Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. 
Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” 
A FILOSOFIA DE NIETZSCHE 
Para Nietzsche, a filosofia, representada por Sócrates (o “homem de uma visão só”), instaura o predomínio da razão, da racionalidade argumentativa, da lógica, do conhecimento científico e do “espírito apolíneo” – derivado de Apolo, deus da ordem e do equilíbrio. Assim, perde-se a proximidade da natureza e de suas forças vitais, da alegria, do excesso e do “espírito dionisíaco” – derivado de Dionísio, o deus do vinho e das festas. 
A história da filosofia é, portanto, a história do triunfo da razão contra a “afirmação da vida”. Seria preciso, assim, resgatar o elemento dionisíaco da vida. 
Entretanto, não foram apenas os filósofos que contribuíram para a decadência do homem e da cultura ocidental. Para Nietzsche, o cristianismo também teve o seu papel. Isso porque os cristãos defendem uma “moral dos escravos” ou do “rebanho” contra uma “moral dos senhores” ou dos “espíritos livres”. 
A “moral dos escravos” nega a vontade e o desejo, enquanto a “moral dos senhores” se relaciona com aqueles que afirmam a vida. Importante notar que o termo escravo deve ser entendido aqui não no sentido social, mas psicológico. Devido à força do número, a mediocridade do rebanho venceu. 
A moral cristã é hostil à vida, uma forma de os fracos deterem os fortes. Os cristãos condenam os belos, os fortes e os poderosos a um inferno fictício, enquanto legaram aos escravos o céu. O cristianismo sufoca nosso impulso criativo, insaciável. Contra aquilo que pregam os cristãos e filósofos, é preciso ser fiel à vida: “Permanecei fiéis à Terra e não acrediteis nos que vos falam de esperanças supraterrestres! Envenenadores são eles”. 
Nietzsche propunha uma transvaloração de todos dos valores: por meio de seu método genealógico (A Genealogia da Moral), é preciso investigar a origem dos valores, em vez de simplesmente aceitá-los. Ao falar da “morte de Deus”, Nietzsche, ao contrário do que se pensa, não se colocava como um “anticristo” no sentido evangélico do termo, mas como alguém que queria a morte das “muletas metafísicas”, ou seja, dos “apoios” fora da vida, de viver baseado num mundo que não existe. Como assim? 
Para acalmarem a angústia da própria existência, os homens ocidentais sempre procuram inventar em sua vida uma finalidade (um sentido, um motivo, uma razão para sua existência e para os acontecimentos da vida), uma unidade (o conhecimento científico, garantindo que podemos entender o universo) e uma verdade (uma moral, uma razão filosófica). 
Para Nietzsche, esses três conceitos são ilusões, ídolos. Assim, o filósofo alemão derrubava os três pilares da cultura ocidental. Para Nietzsche, os principais temas abordados por todos os filósofos até o século XIX, como Deus, Ser, Razão, Sentido, Verdade, Ciência, Produção, Beleza, Ordem, Justiça, Estado, Revolução, Família, Demonstração, Lógica, seriam construções, valores morais ocidentais, que domesticavam o homem e anulavam sua criatividade. Os valores do mundo estão, portanto, baseados em nada – a cultura que não supera isso é uma cultura niilista. 
Niilismo é a inversão dos valores vitais pelo cristianismo, que transforma em afirmação de poder o sofrimento e a lassidão de uma vida diminuída. O niilismo, assim, é a doença dos tempos modernos, a vida depreciando a vida. Paradoxalmente, niilismo é também a denúncia desses valores. 
Em O Crepúsculo dos Ídolos, Nietzsche declara guerra a esses falsos deuses que criamos: o Estado, as instituições, as ilusões da filosofia, a verdade. 
Apenas os espíritos mais refinados têm asco a essas normas, negando Deus, a ciência, a verdade. Superando essa cultura do medo e do ressentimento, nos tornamos o super- -homem ou além-homem. 
Zaratustra – protagonista do livro Assim Falou Zaratustra – é o além do homem (Übermensch), pois ele viu muitas coisas, sofreu muito, amou, odiou, foi guerreiro, experimentou a morte, comemorou a vida. Em seu caminho cheio de pedras, ele superou a si mesmo. 
Zaratustra é o homem superior, cujo querer emancipado de todo ressentimento, de toda culpa, de toda negação, assume plenamente o sentido da vida em todas as suas formas e a justifica inclusive no que ela tem de mais ambíguo e de mais assustador. Livre de espírito e de coração, sua felicidade está em vencer a si mesmo. 
O super-homem não se pergunta “qual é a verdade?”, e sim: “qual é o valor da verdade para a vida?” ou “o que é que o verdadeiro quer de nós?”. 
Nietzsche hoje
 Nietzsche nunca foi tão lido quanto na atualidade. Um dos motivos é a crise dos diversos “ismos” – quer dizer, noções que guiam a vida civilizada, chamados de industrialismo, liberalismo, socialismo, positivismo, cristianismo, protestantismo. 
Muitos estão descrentes de noções como o progresso: progresso para quê? Progresso para quem? A manutenção de problemas como a fome e a desigualdade, bem como o agravamento dos problemas ambientais, tornou muitas pessoas céticas em relação ao nosso progresso. 
Outra ideia em crise é a noção de verdade: diante da pluralidade enorme de visões de mundo nos dias atuais, poucos duvidam da relatividade da verdade. E o que dizer sobre as “utopias” tão fortes no século XX: quem ainda têm um projeto de sociedade ideal para o século XXI? 
Por mais que esses “ismos” ainda tenham muita força, ninguém duvidaria que hoje, mais do que em outras épocas, não são poucos os que duvidam da validade e utilidade dos alicerces da nossa “civilização ocidental”, já questionados pelo filósofo prussiano no século XIX. Nesse sentido, o “filósofo das marteladas”, que se opunha a todos os dogmas da sociedade civilizada, parece mais atual do que nunca.

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O existencialismo de Sartre foi uma das correntes mais importantes do pensamento francês Origem Paris (França) (1905-1980) 
CORRENTE FILOSÓFICA 
Existencialismo 
PRINCIPAIS OBRAS 
A Náusea; Os Caminhos da Liberdade; O Ser e o Nada; O Existencialismo É um Humanismo; Entre Quatro Paredes Frase-síntese “A Existência precede a Essência.” 
BIOGRAFIA 
Jean-Paul Sartre nasceu em Paris, em 21 de junho de 1905. Criado pela mãe e pelo avô, estudou na Escola Normal Superior, onde conheceu a escritora Simone de Beauvoir, em 1924, com quem estabeleceu uma relação afetiva até sua morte. De 1931 a 1945 lecionou filosofia em várias escolas secundárias. 
Recrutado em 1939 para a II Guerra Mundial, acabou prisioneiro dos alemães entre 1940 e 1941. Depois de libertado, voltou a lecionar e se integrou à Resistência Francesa, de oposição ao nazismo, fundando o Movimento Socialismo e Liberdade. 
Após a guerra, aproximou-se dos comunistas. Em 1945 cria com outros intelectuais a revista Les Temps Modernes, que exerceu grande influência sobre a intelectualidade francesa. Foi o primeiro diretor do hoje tradicional jornal esquerdista Libération. 
Em 1956 rompeu com o modelo socialista russo após a intervenção das tropas soviéticas na Hungria. Na década de 1950 abraçou o comunismo maoísta – dizendo ser o marxismo “a filosofia inevitável de nosso tempo” – e posicionou-se publicamente em defesa da libertação da Argélia, da Revolução Cultural da China e dos movimentos estudantis de 1968. 
Morreu em Paris, em 1980. “A realidade humana não tem desculpas: somos responsáveis pelo mundo, porque o elegemos. O homem é o único legislador de sua vida, e a única lei de sua existência diz apenas: ‘escolhe-te a si mesmo’. Ou então, ‘fazer e, ao fazer, fazer-se’. 
A cada momento o homem deve escolher o seu Ser, lançando-se continuamente a seus possíveis e constituindo pouco a pouco a sua essência, através dessas escolhas, contando, para agir, somente com a voz de sua consciência.” 
A FILOSOFIA DE SARTRE 
O existencialismo de Sartre foi uma das correntes mais importantes do pensamento francês, ganhando força, sobretudo, nas décadas de 1950 e 1960, com forte repercussão na filosofia, na literatura, no teatro e no cinema. 
Considerado por muitos o símbolo do “intelectual engajado”, Sartre adaptava sempre sua ação às suas ideias, e o fazia sempre como ato político. Foi aquele intelectual cujo pensamento influenciou tendências e atitudes, pronunciando-se sobre acontecimentos políticos, sociais e culturais de seu tempo (maitre à penser). O termo sartriano tornou-se sinônimo de livre-pensador. 
Para Sartre, o homem é um tipo diferente de ser, pois pode pensar sobre a própria consciência e sobre o mundo ao seu redor. Para o homem que se define por sua autoconsciência, existir e refletir são a mesma coisa. 
A consciência humana não tem uma essência definida, não tem um criador que tenha dado uma finalidade a priori para sua vida: “O homem é um ser pelo qual o nada vem ao mundo”. O que resta ao homem? Sua liberdade, consequência básica dessa constatação. A única opção é criar. É durante a própria existência que o homem define, a cada momento, o que ele é. 
Em outras palavras, o homem constrói os significados de sua vida, seus objetivos, metas, valores, sua visão de mundo, seu sentido. 
O homem é o único responsável por seus atos e escolhas, criador de sua existência autêntica. Vivemos presos numa teia de significados que nós mesmos criamos diante de um mundo que, sozinho, nada significa. Não há nenhuma ética pronta, anterior a nós mesmos, para nos guiar. Não há tábuas de apoio ou pretextos. 
Por isso, no homem, “a existência precede a essência”. Sartre tinha plena consciência de como essa filosofia é extremamente angustiante: em vez de aceitarmos valores prontos dados pela Igreja ou por uma tradição qualquer, somos completamente responsáveis por nossos atos, por nossas escolhas, valores e sentidos. 
Em vez de consumir éticas enlatadas, temos que produzir a nossa própria. Viver é uma escolha: são as escolhas de cada homem que definirão a sua essência. E mais: essas escolhas podem afetar, de forma irreversível, o próprio mundo. 
A angústia, portanto, vem da própria consciência da liberdade e da responsabilidade em usá-la de forma adequada: “O homem está condenado a ser livre”. O melhor para sermos felizes, então, não seria assumir um sentido para a vida pronto, como uma religião qualquer ou a busca pelo dinheiro? Não. 
A filosofia de Sartre defende a liberdade e a autenticidade de cada ser humano como essenciais, não obstante a angústia que tal liberdade pode nos trazer. Sartre chama de má-fé a atitude daqueles que, renunciando à própria liberdade, assumem um papel pronto na sociedade; aqueles que não são sujeito, mas objeto da própria vida. 
Sartre hoje 
Qual a relação entre os intelectuais e as massas? 
Sartre consolidou-se como intelectual engajado, porta-voz de uma época, cuja opinião era sempre consultada. Na época de Sartre, o intelectual era visto por muitos como a “vanguarda” da sociedade. 
Atualmente, muitos, em contraposição, enxergam a posição do intelectual de outra forma. O sociólogo português Boaventura de Souza Santos, por exemplo, defende a ideia de que o intelectual deve estar na “retaguarda” da sociedade, atuando junto aos movimentos sociais, sem a intenção de dirigi-los.
Simone de Beauvoir 
(Paris9 de janeiro de 1908 — Paris, 14 de abril de 1986), foi uma escritoraintelectualfilósofa existencialista, ativista políticafeminista e teórica social francesa. Embora não se considerasse uma filósofa, De Beauvoir teve uma influência significativa tanto no existencialismo feminista quanto na teoria feminista.[1]
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Bauman utilizou o conceito de “Modernidade Líquida” como forma de explicar como se processam as relações sociais na atualidade 
Origem 
Poznán (Polônia) (1925-2017) 
CORRENTE FILOSÓFICA 
Pós-Modernismo 
PRINCIPAIS OBRAS 
Modernidade Líquida; Modernidade e Holocausto; Amor Líquido; Medo Líquido 
Frase-síntese 
“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar.” 
BIOGRAFIA
 Zygmunt Bauman nasceu em Poznán, na Polônia, em 19 de novembro de 1925, em uma família de judeus não praticantes. Em 1939, foge com os pais para a União Soviética, escapando do cerco nazista de Adolf Hitler sobre a Polônia. 
Bauman serviu na divisão polonesa do Exército Vermelho durante a II Guerra Mundial e foi condecorado com uma medalha ao valor militar. Estudou filosofia e sociologia em Varsóvia, na Polônia, mas foi afastado devido à leitura de livros e artigos censurados. 
Crítico do autoritarismo soviético, mudou-se para a Inglaterra, onde se tornou professor da Universidade de Leeds. Recebeu os prêmios Amalfi (1989, por sua obra Modernidade e Holocausto) e Adorno (1998, pelo conjunto de sua obra). Morreu em janeiro de 2017, aos 91 anos. “A incerteza é o habitat natural da vida humana – ainda que a esperan- ça de escapar da incerteza seja o motor das atividades humanas. 
Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental, mesmo que apenas tacitamente presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas da felicidade. É por isso que a felicidade ‘genuína’ adequada e total sempre parece residir em algum lugar à frente: tal como o horizonte, que recua quando se tenta chegar mais perto dele.” 
 O sociólogo polonês Zygmunt Bauman utilizou o conceito de “Modernidade Líquida” (ou “Pós-Modernidade”) como forma de explicar como se processam as relações sociais na atualidade. 
Para Bauman, a modernidade “sólida”, forjada entre os séculos XIV e XV e cujo apogeu se deu nos séculos XIX e XX, teve como traço básico a ideia de que o homem seria capaz de criar um novo futuro para a sociedade, que cresceria em paralelo a uma vida enraizada em instituições fortes e presentes, como o Estado e a família. 
A confiança no homem e em sua capacidade de moldar o próprio futuro seria o principal traço desse período. Segundo Bauman, a partir das últimas décadas, sobretudo após a queda do Muro de Berlim, em 1989, essa modernidade “sólida” estaria em desintegração e seria gradualmente substituída por uma modernidade “líquida”. 
A palavra liquidez remete à fluidez, ausência de forma definida, velocidade, mobilidade e inconsistência. Esses seriam, para ele, justamente, os traços essenciais das relações sociais na atualidade. A antiga confiança “sólida” num futuro perfeitamente arquitetado pela razão foi substituída pela incerteza. 
O futuro tornou-se nebuloso e indefinido. As “distopias” ou as “utopias negativas” ganham força – sabe-se apontar problemas e dificuldades no mundo, mas poucos sabem oferecer alternativas consistentes a esses problemas e dificuldades. Como disse Leo Strauss, “a liberdade sem precedentes também foi acompanhada pela impotência sem precedentes. Criticamos o mundo, nunca estamos satisfeitos, mas raramente sabemos o que fazer com nossas críticas”. 
O sistema capitalista aparece para esses homens pós-modernos como a única realidade possível, posto que eles duvidam que o ser humano possa criar uma realidade diferente. Incertos quanto ao futuro das sociedades, os homens pós-modernos têm fixado suas esperanças e expectativas no presente, no instante e no indivíduo; por todos os lados, os anúncios publicitários e as revistas conclamam as pessoas a “aproveitar o agora”, “pensar em si mesmas”. 
O ser humano pós-moderno substitui os projetos para o futuro pelo prazer instantâneo, a produção pela especulação, o conteúdo pela performance, a experiência pela flexibilidade e os sonhos pelas ambições. Além disso, a sociedade líquida, pouco apegada aos seus antecedentes, é obcecada pela novidade: a nova notícia, a nova promoção, o novo carro, a nova rede social. 
Os laços que uniam os homens ao passado são cortados, e vive-se numa espécie de “eterno presente”. Os produtos se renovam diariamente, e os empresários não temem anunciar que os próprios objetos produzidos já estão “atrasados”. 
Da mesma forma, os trabalhadores do século XXI vivem numa constante liquidez, numa permanente incerteza e medo de ser “descartados”, posto que a mobilidade e a flexibilidade das empresas são tamanha que, a qualquer momento, cortes inesperados e mudanças de planos podem acontecer. 
A solidez das convic- ções, assim, foi substituída pela liquidez do instante. Nos laços amorosos, observa-se a mesma tendência: relacionamentos fluidos, inconstantes e momentâneos caracterizam nossa época, que consagrou o conceito de “ficar”, expressão da liquidez do amor. 
Bauman hoje 
A noção de “liquidez”, para Bauman, é utilizada inclusive para analisar as guerras e os conflitos do mundo contemporâneo, como o chamado “terrorismo”. A partir do ataque de 11 de setembro de 2001, a natureza da guerra entra em mutação. 
Torna-se raro, assim, uma guerra entre dois exércitos que se confrontam: a guerra passa a ser, predominantemente, assistemática, isolada, dispersa e assimétrica, com ataques brutais e esporádicos, feitos especialmente a distância, com aeronaves ou drones. 
Essa é a maneira como a França atacou o Mali ou os Estados Unidos atacaram o Estado Islâmico. Por outro lado, a forma com que os chamados “terroristas” atacam embaixadas norte-americanas e países europeus também tem essas características, ainda que em escalas e intensidades diferentes. A guerra torna-se, assim, “líquida”.
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